A Sala de Cinema: Um Ritual em Risco?
Lembro de ter pulado a chance de ver um filme que estava bombando e, correndo para o cinema, me deparei com uma cena que me fez questionar o futuro da experiência cinematográfica. A sala não estava lotada, mas já avistava grupos conversando alto, celulares brilhando na penumbra e, para piorar, um flash disparado em direção à tela durante o filme. Duas horas de fogos de artifício desfeitos por cochichos e distrações.
Não estou sozinho nessa. A internet está recheada de relatos de situações semelhantes: gritos disruptivos, a exibição de vídeos no celular, casais em poses desconfortáveis e, mais recentemente, uma "trend" do TikTok que levou à remoção de pessoas de sessões de "Um Filme Minecraft". A Cineworld, por exemplo, já emitiu alertas severos, proibindo comportamentos antissociais e ameaçando a rescisão do ingresso.
Mas por que essa mudança? Por que a ida ao cinema, outrora um ritual de comunidade, se transformou em um campo de batalha de distrações? A resposta, talvez, esteja na sombra do streaming.
A facilidade de acessar filmes instantaneamente em casa, com o conforto de não precisar interromper a história, é um atrativo inegável. As plataformas de streaming oferecem poder de pausa, a liberdade de escolher o que assistir e a comodidade de não precisar sair de casa. E, convenhamos, quem resiste à tentação de pegar um lanche e, sem interrupção, assistir a um filme?
Não podemos esquecer que, após a pandemia, a indústria cinematográfica revelou dois grandes inimigos: a crise causada pelo distanciamento social e a influência de filmes como "Deadpool e Wolverine". A viralização de pessoas gravando cenas nos cinemas, compartilhadas em redes sociais, criou um efeito dominó, incentivando outros a fazerem o mesmo. Até mesmo o diretor do filme se manifestou, admitindo que não foi essa a intenção.
A verdade é que o problema não é o filme, mas sim um público que parece ter perdido a noção de que o cinema é um espaço compartilhado. Redes exibidoras e produtores de filmes estão preocupados, e com razão. Se a ida ao cinema se tornar sinônimo de incômodo e interrupção, a indústria corre o risco de perder público para o conforto do streaming.
E as consequências podem ser sérias. Filmes autorais, aqueles que não dependem do apelo de blockbusters para atrair plateia, correm o risco de desaparecer das telas. A diversidade do cinema, que sempre foi um dos seus maiores trunfos, pode ser reduzida a uma oferta limitada de filmes de grande orçamento.
Não estou pedindo que a gente se transforme em estátuas durante todo o filme. O cinema é, antes de tudo, um lugar para compartilhar uma experiência, para se emocionar com outras pessoas, para sentir a energia da sala. Mas, para que essa experiência seja possível, é preciso um esforço conjunto: respeito aos demais espectadores, silêncio durante as cenas importantes e, acima de tudo, a valorização do momento compartilhado.
E você, o que acha? A experiência de ir ao cinema mudou para sempre? Compartilhe sua opinião conosco nas nossas redes sociais! Estamos no Threads, Instagram, TikTok e WhatsApp.
