A Linha do Tempo do Silêncio e os Segredos Digitais da ABIN
A paranoia, por vezes, se instala nos corredores do poder. E, como um vírus digital, ela pode se espalhar por redes de vigilância e algoritmos secretos. A história que vem à tona agora envolve a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) e um escândalo que ecoa nos corredores da política e da justiça.
A notícia começou a circular na semana passada: o diretor-geral da ABIN, Fernando Corrêa, foi chamado para depor na Polícia Federal. O motivo? Uma investigação profunda sobre supostas práticas de espionagem em larga escala, utilizando uma ferramenta controversa chamada FirstMile.
FirstMile: Um Rastreamento Digital Que Desperta Suspeitas
Desenvolvida por uma empresa israelense, a Cognyte (antigamente Verint), a FirstMile é um software capaz de “rastrear” a localização de celulares apenas com o número de telefone. Imagine a capacidade de mapear os movimentos de milhares de pessoas em questão de meses. Essa é a promessa – e o perigo – da ferramenta.
Segundo relatos de investigadores, a ferramenta foi contratada por quase R$ 5,7 milhões, sem licitação, durante o governo de Michel Temer. Em 2018, a ABIN utilizou o FirstMile para monitorar indivíduos considerados "desafiantes" do então presidente Jair Bolsonaro – figuras do STF, jornalistas e até mesmo autoridades paraguaias.
O Ataque ao Paraguai e o Investimento em Dados
A investigação vai além do monitoramento interno. Há denúncias de um ataque cibernético direcionado ao Paraguai, orquestrado com o intuito de obter dados sigilosos. O objetivo? Desvendar informações sobre negociações delicadas no tratado de Itaipu, que impactam diretamente o preço que o Brasil paga pela energia paraguaia. A curiosidade: o ataque teria continuado mesmo após a mudança de governo, com a autorização do atual diretor da ABIN, Fernando Corrêa, e de um diretor interino.
Um Jogo de Sombras e a Busca pela Verdade
A implicação é clara: a ABIN, sob diferentes gestões, utilizou uma ferramenta de vigilância de alta tecnologia para fins que extrapolam o monitoramento de potenciais ameaças. A investigação busca responder a duas perguntas cruciais:
- A ABIN obstruiu a investigação sobre seus próprios métodos? Existiu um esforço deliberado para esconder a utilização da FirstMile e a extensão das operações de espionagem?
- Fernando Corrêa tinha conhecimento e autorizou essa espionagem? A responsabilidade recai sobre ele?
A ABIN se defende alegando estar à disposição das autoridades para esclarecer os fatos, mas a sombra da suspeita paira sobre a agência. A depozição de Fernando Corrêa na Polícia Federal promete trazer mais luzes a esse drama, revelando os segredos digitais que se esconderam nas sombras da inteligência brasileira. Um caso que nos lembra que, na era da informação, o silêncio pode ser a arma mais poderosa – e a mais perigosa.