Assassin’s Creed Shadows: Uma Tempestade de Críticas e um Legado Complexo
O lançamento de Assassin’s Creed Shadows gerou um burburinho considerável, e não apenas por causa das controvérsias sobre a precisão histórica do jogo. A saga, que se passa no Japão do período Sengoku, seguiu sendo acompanhada por uma onda de reações, complexa e, para muitos, perturbadora. No centro dessa tempestade, uma figura inesperada: Sachi Schmidt-Hori, uma historiadora especializada em cultura japonesa, que trabalhou em estreita colaboração com a Ubisoft durante o desenvolvimento do jogo.
O que começou como uma parceria para garantir autenticidade histórica rapidamente se transformou em um campo minado de críticas e, para a própria Sachi, em um ataque pessoal sem precedentes. Como historiadora asiática, ela se viu alvo de uma série de mensagens e comentários veementes, a maioria proveniente de homens asiáticos que viviam no Ocidente.
O que torna a situação ainda mais peculiar é a natureza do ataque. Em vez de questionamentos sobre a representação histórica ou o design do jogo, o foco recaiu em acusações de traição e de promover uma narrativa que, segundo seus críticos, apagaria a história e a experiência dos homens asiáticos. A reação foi, segundo Schmidt-Hori, significativamente diferente no Japão, onde a recepção foi mais reservada e menos carregada de um sentimento de exclusão.
A historiadora descreve a cena como um caldeirão fervente de opiniões distintas. Uma facção se indignava com o jogo em si, outra com a Ubisoft, e uma terceira, direcionava suas críticas diretamente a ela, acusando-a de ser uma “vendida” e cúmplice na suposta erupção da história asiática. Um padrão emergeu: muitos desses críticos eram homens asiáticos do Ocidente, presos em uma narrativa aparentemente preexistente sobre a posição das mulheres asiáticas no mundo.
"Era como se, ao me ver envolvida no projeto, eu fosse vista como um símbolo de uma conspiração maior," explica Schmidt-Hori. “Uma ideologia que, em sua essência, usa a frustração e a identidade de grupos minoritários para justificar um sentimento de superioridade.”
A situação se agravou quando grupos com ideologias extremistas aproveitaram a onda de críticas para disseminar suas próprias visões, usando a polêmica como pretexto para promover uma agenda que ecoava de forma preocupante. A resposta da Ubisoft, segundo a historiadora, foi decepcionante: ela foi aconselhada a ignorar e se afastar das redes sociais, sem qualquer apoio ou preparação para lidar com as ameaças que recebía.
Schmidt-Hori ressalta que a experiência a deixou profundamente abalada, destacando a falta de consideração e a incapacidade da empresa em oferecer suporte adequado diante de um cenário de risco tão evidente. O caso de Assassin’s Creed Shadows levanta questões importantes sobre a responsabilidade das empresas de jogos ao trabalhar com fontes externas, a complexidade da representação cultural e a necessidade de um diálogo mais aberto e sensível, especialmente quando se lida com histórias e personagens de diferentes culturas. É uma história que nos lembra que, por trás do entretenimento, há emoções, identidades e, por vezes, feridas profundas.