O Dilema do Hospital: Joel, Ellie e a Linha Tênue Entre a Moral e o Instinto
A cena do hospital em The Last of Us segue ecoando na mente dos jogadores há anos. Joel, com sua máscara manchada de sangue e o olhar fixo em Ellie, se torna uma figura controversa: um herói brutal ou um pai desesperado? A chegada da segunda temporada da série HBO reacendeu esse debate, e a resposta, como tantas vezes acontece, é complexa e cheia de nuances.
A cena, que se tornou um dos momentos mais emblemáticos da franquia, nos coloca diante de um questionamento fundamental: até onde iríamos para proteger quem amamos? Joel, em sua jornada para garantir a sobrevivência de Ellie, decide que a salvação da humanidade não vale o sacrifício da garota que ele considera sua filha. E, lá no fundo, a maioria de nós, em uma situação similar, provavelmente agiria da mesma forma.
Neil Druckmann, o criador do jogo, defende essa decisão com veemência. Para ele, a familiaridade com o dilema amplifica a brutalidade da escolha. “Se eu tivesse que matar uma pessoa aleatória para salvar, sei lá, quantas vidas em abstrato, eu diria, ‘sim, isso faz sentido, é claro’. Mas quando essa pessoa aleatória se torna seu filho, a resposta muda completamente”, explica. A dificuldade reside em despersonalizar o ato, em separar o valor da vida humana em geral do valor da vida de quem você ama.
A perspectiva de Craig Mazin, o showrunner da série, divergiu um pouco. Embora reconheça que, em um momento de desespero extremo, poderia ter tomado a mesma decisão, ele questiona a moralidade da ação. “É interessante porque, na minha posição, provavelmente teria feito o que ele fez. Mas eu gostaria de pensar que não faria”, comenta. E é justamente essa dualidade, essa tensão entre o que faremos e o que gostaríamos de fazer, que torna a cena tão visceral e provocadora.
Gabriel Luna, o ator que interpreta o irmão de Joel na série, oferece uma visão particular: para Ellie, o mundo era tudo. “Não posso culpá-la pessoalmente como Tommy e talvez nem mesmo como Gabe”, afirma. A obsessão de Joel por Ellie, sua prioridade absoluta, nubla seu julgamento e o leva a uma ação impensável.
Já Young Mazino, o ator que incorpora Jesse na série, pinta um quadro ainda mais sombrio. “Ele estava no piloto automático”, diz. “Desmaiou e ficou tudo nebuloso até que acordou. As pessoas chegam ao final de The Last of Us e surgem aquela pergunta: o que você faria? O que você faria se tivesse a oportunidade de salvar o mundo, se sacrificasse seu filho?” A cena ecoa a clássica história de Abraão e Isaque, um conto milenar sobre sacrifício e a preservação do próprio mundo.
E Bella Ramsey, que interpreta Ellie na série, conclui o fio narrativo com uma frase impactante: “Sim, ele salvou o seu próprio mundo, mas não o mundo”.
A cena do hospital em The Last of Us não oferece respostas fáceis. Ela nos força a confrontar nossos próprios valores morais, a questionar os limites da nossa lealdade e a refletir sobre o que realmente importa. E você, caro leitor, o que faria no lugar de Joel? O que você faria para proteger o seu mundo?